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A IMPORTÂNCIA DE TER UM ESTILO PRÓPRIO

  • Foto do escritor: Amanda Guilherme
    Amanda Guilherme
  • 28 de jun.
  • 3 min de leitura
Oficina de criação de personagens
Oficina de criação de personagens

Ter um estilo próprio não é apenas uma questão estética. É uma afirmação artística. Uma espécie de digital invisível que o artista imprime na sua obra – mesmo quando ninguém assina o final. Seja na escrita, no visual ou no audiovisual, todos os artistas em algum momento se deparam com a pergunta: "Isso aqui é realmente meu?"

No audiovisual, por exemplo, é difícil não reconhecer de cara o universo sombrio de Tim Burton, a construção narrativa de Christopher Nolan, a doçura caótica de Greta Gerwig ou a assinatura emocional de Steven Spielberg. Na literatura, temos a intensidade introspectiva de Clarice Lispector ou a crítica social cortante de George Orwell. No campo visual, o estilo vira identidade, e identidade vira marca.

Comecei a desenvolver meu estilo em 2021, e posso dizer que foi mais tropeço do que certeza. Um exemplo bizarro: o personagem “Wick”, que pra começo de conversa nem deveria se chamar assim. O nome era “Witch”, mas como nunca fui boa em inglês e insisti tanto no erro, acabou ficando. E quer saber? Acabou sendo o nome certo.

O curioso é que, apesar de muitas vezes as pessoas esperarem que toda obra tenha um significado profundo e filosófico, nem sempre é assim. Às vezes um ponto preto num fundo dourado não é uma crítica ao capitalismo, nem uma metáfora sobre ganância, nem a representação minimalista de uma formiga sobre uma toalha amarela. Às vezes é só um ponto. Às vezes, é só porque o artista quis.

É inevitável, no entanto, que se questione o artista sobre seu processo criativo. Eu, por exemplo, já odiei muito do que fiz. “Sempre, Sempre Acaba” é meu filho negado. Quase nunca comento sobre esse curta-metragem. Simplesmente porque não gosto do resultado. Mas continuei, finalizei, mesmo odiando. E isso também faz parte do desenvolvimento artístico. Pra enriquecer essa conversa, convidei o artista Giovani José para dividir um pouco da sua trajetória e visão sobre estilo e identidade:

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Como você desenvolveu o seu estilo de arte?"Conforme o passar dos anos, comecei a admirar o movimento humano, suas poses, e como o corpo muitas vezes se torna arte. Nunca fiz curso de desenho ou artes pra chegar onde estou. Tudo é fruto de observação e tentativa. Eu me observava no espelho, estudava ângulos, luz, sombra, expressões. Meu processo tem tudo a ver com conexão. Esboçava por curiosidade, me permitindo errar, tentar, acertar."
Como acredita que sua arte impacta as pessoas?"O impacto é constante. Tanto pela forma como pelo conteúdo. Meus personagens, a violência representada, os detalhes carregam uma mensagem. Isso dá peso à obra e intensifica a experiência de quem vê."
Você acredita que é importante ter um estilo próprio?"Com certeza. A arte sempre esteve ligada a movimentos de transformação social: liberdade de expressão, guerras, desigualdades. Ter um estilo próprio é ter um motivo pra criar, um porquê. É contar uma história que só você pode contar. E isso é o que faz a diferença."
Que dicas daria para artistas em busca do próprio estilo?"Viva como um narrador. Observe risos, dores, rostos, detalhes. Admire até o que é feio. Tudo tem forma. Quanto mais você absorve, mais o seu estilo se forma. E, acima de tudo, nunca limite sua consciência. Seja livre. Experimente. Arrisque."

Construir um estilo é um processo contínuo. E, diferente do que muitos pensam, não se trata de ter todas as respostas ou dominar todas as técnicas. Ter um estilo é sobre saber fazer perguntas certas, com a sua própria voz.

Nem todo artista começa sabendo o que quer dizer, mas se ele continuar criando, uma hora acaba dizendo algo que só ele poderia ter dito. E é aí que o estilo aparece. Não como um fim, mas como um reflexo de quem o artista é no meio do caminho.

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