Festival Papagena: Como foi a experiência de realizar a primeira edição
- Amanda Guilherme
- há 2 dias
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Entre frases genéricas e promessas vazias, nasceu o Papagena: um festival multicultural independente, feito basicamente por uma única pessoa — eu.O festival surgiu em 2024, carregando uma ideia de aceitação. Como artista multicultural, com foco no audiovisual, o que mais recebo são “nãos” de pessoas que claramente nem assistiram aos meus curtas. Para tentar mudar isso, o Papagena nasceu da necessidade de acolher o que não é habitual, o que não se encaixa nos padrões estéticos, mas que é essencial.
O projeto original do Papagena era bem diferente do que vocês viram na versão final. A proposta inicial era fazer um festival híbrido, misturando atividades presenciais e online, envolvendo artistas e moradores de Camaragibe. No entanto, por conta de diversos obstáculos, tive que tomar uma decisão difícil: desistir do festival ou encolher o festival. Escolhi a segunda opção. Embora essa pareça a escolha mais sensata, lidar sozinha com o trabalho de toda uma equipe e cadeia produtiva cobra um preço altíssimo.
Recebemos cerca de 538 filmes, divididos em quatro categorias (local, internacional, negro e infantil). Eu assisti a todos, avaliei um por um e cuidei de toda a logística de seleção e rejeição dos projetos. É verdade que contei com o apoio curatorial de Lucas (meu grande amigo) e Jefferson (meu irmão), mas ainda assim precisei colocar a mão na massa em praticamente tudo.
Na proposta original, o Papagena seria um espaço de conversa, troca e acolhimento. Mas, preciso ser sincera: aceitação foi justamente o que menos encontrei nesse processo. Perdi o espaço onde seria realizado o festival, tive ofícios negados e lidei com múltiplas promessas não cumpridas por artistas — tanto na curadoria quanto na entrega de suas obras para a mostra visual. Por mais cansativo que tudo isso tenha sido, havia algo dentro de mim que precisava fazer esse festival acontecer.
Ah, e caso não tenha ficado claro: o festival foi feito com zero reais. Nenhum centavo. Nem eu tenho.O que mais me machuca é perceber quantos projetos incríveis morrem antes mesmo de nascer, engolidos pela hipocrisia de quem diz apoiar cultura e causas sociais apenas para se autopromover, sem mover um dedo quando é hora de fazer algo de verdade. Tive minha cota de decepções. Não vou mentir: doeu ser rejeitada, especialmente quando o projeto era tão bonito e precisou ser dilacerado para virar realidade.
Mas, ainda bem, o mundo também é feito de pessoas loucas e lunáticas como eu — que desafiam a falta de apoio, a maldade, o estresse e a pressão, só para tirar um sonho do papel e defender uma causa. E, apesar de todo o caos que envolve sonhar e realizar, hoje me sinto em paz. Porque sei que, de alguma forma, eu impactei o mundo. Mesmo que tenha sido por um milissegundo.
Não existe festival pequeno se ele for feito com amor e paixão. Assim como não existe nenhum pequeno cineasta capaz de fazer as pessoas sentirem coisas, mesmo sem nenhum sentimento real. É um prazer e uma verdadeira honra para Sonia Cuesta e para mim fazer parte desta maravilhosa aventura. Gostaria que existissem mais sonhadores como você, capazes de realizar sonhos e ajudar outros pequenos sonhadores a caminhar com você. Um grande abraço da Espanha de Guillermo Rojo, diretor de 'Apagada'.
Estimada Fundadora do Papagena Festival, li o teu relato sobre a criação do Papagena e me emocionei profundamente. Sei que não nos conhecemos, mas senti cada palavra como se fosse minha. O que você realizou, mesmo diante de tantas dificuldades, é imenso. Você fez algo que muita gente só sonha: deu vida a um festival autêntico, corajoso e necessário. E isso não se apaga nem se diminui por não ter sido “perfeito”. Ao contrário — é justamente isso que o torna tão valioso.
Entendo o quanto pode ser exaustivo remar sozinha contra a maré, sentir que ninguém enxerga teu esforço, que tudo parece invisível. Mas o teu texto já tocou, já impactou, já plantou algo no mundo — e isso…