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Justiça Climática: Por que Falar Disso no Brasil?

  • Foto do escritor: Amanda Guilherme
    Amanda Guilherme
  • há 3 dias
  • 5 min de leitura

Justiça Climática no Brasil: Conceito, Urgência e o Impacto Desigual nas Periferias Urbanas e Comunidades Tradicionais.



Introdução


Contexto do Tema

A crise climática global é um fato inegável, mas seus efeitos não são sentidos de maneira uniforme. No Brasil, a emergência do clima — manifestada em secas prolongadas, chuvas extremas e aumento das temperaturas — intensifica as desigualdades sociais e raciais pré-existentes. A pauta da Justiça Climática emerge para questionar quem arca com o maior peso dos danos ambientais e quem tem menos recursos para se adaptar.


Relação com Cultura & Clima

A Cultura está intrinsecamente ligada ao clima, pois a forma como as comunidades se relacionam com o território define sua capacidade de resiliência. As práticas culturais e os saberes ancestrais de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais brasileiras (como o manejo da terra e o uso sustentável de recursos) são, em si, estratégias de mitigação e adaptação climática. A destruição desses saberes e territórios é, portanto, uma perda cultural e climática.


Por que Importa na Consciência Negra

O tema é vital para a Consciência Negra porque a maioria das vítimas da crise climática no Brasil vive em periferias e comunidades rurais negras, sofrendo com o Racismo Ambiental. Moradias em áreas de risco, falta de saneamento básico e contaminação por poluição industrial são realidades que demonstram que a exploração da Terra e a exploração de corpos negros são faces de um mesmo sistema histórico colonial-extrativista. Lutar por Justiça Climática é uma extensão da luta por dignidade e vida negra.


Objetivo do Minicurso

Este minicurso tem como objetivo definir, contextualizar e analisar a urgência da Justiça Climática no Brasil, focando em como ela se manifesta nas periferias e comunidades negras, e apresentar as iniciativas de resistência e solução lideradas por esses grupos.


Conceitos Básicos

Termo Essencial

Definição Rápida

Ideia-Chave

Justiça Climática

Princípio que busca garantir que a mitigação dos impactos climáticos e a distribuição de recursos para adaptação sejam justas e equitativas, priorizando os mais vulneráveis.

Equidade no ônus e no bônus da transição climática.

Racismo Ambiental

Ocorre quando políticas e práticas institucionais e individuais resultam na distribuição desigual de benefícios e malefícios ambientais com base na raça ou etnia.

Desigualdade racial na exposição a riscos ambientais e climáticos.

Vulnerabilidade Climática

O grau em que um sistema é suscetível a, e incapaz de lidar com, os efeitos adversos das mudanças climáticas.

É maior em comunidades de baixa renda e racializadas (periferias, favelas).

Transição Justa

Estratégia para garantir que a mudança global para uma economia de baixo carbono não sacrifique ou prejudique os trabalhadores e comunidades dependentes de indústrias intensivas em carbono.

Mudança econômica que gera oportunidades, não novas injustiças.

Contexto Histórico


Origem do Tema


O conceito de Justiça Climática tem raízes no movimento de Justiça Ambiental, que ganhou força nos EUA na década de 1980, liderado por ativistas negros que denunciavam a concentração de lixões e indústrias poluentes em seus bairros (o caso de Warren County, Carolina do Norte, é seminal). No Brasil, o tema se fortaleceu com a luta de comunidades por água, terra e contra a contaminação, com a fundação da Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA).


Momentos ou Movimentos Importantes


  • 1991 - Primeira Cúpula de Lideranças de Populações de Cor sobre o Meio Ambiente (EUA): Formalizou o termo e os princípios do movimento de Justiça Ambiental.

  • A Força do Movimento Quilombola e Indígena no Brasil: A luta pela demarcação de terras e pela autodeterminação é a base da resistência ambiental brasileira, uma vez que a preservação da sociobiodiversidade está ligada à manutenção desses territórios.

  • Fóruns Sociais Mundiais e COP's: O tema da Justiça Climática passou a ser incluído nas discussões globais a partir da pressão de grupos do Sul Global e de movimentos de base.


Referências Negras Relevantes


  • Robert Bullard (EUA): Considerado o "Pai da Justiça Ambiental". Seus estudos documentaram a correlação entre raça e localização de fontes de poluição.

  • Mãe Stella de Oxóssi (Brasil): Através da cosmovisão do Candomblé, transmitiu uma profunda filosofia de ecologia e respeito à natureza (Orixás e território), sendo uma referência cultural de resistência ecológica.

  • Intelectuais Contemporâneos Brasileiros: Articulação de pensadores como Célia Xakriabá (Indígena) e Ailton Krenak com ativistas negros, mostrando a interconexão da luta contra o extrativismo e o capitalismo predatório.


Realidade Brasileira Atual


Situações Concretas


O Brasil é um laboratório de injustiça climática, onde o Racismo Ambiental se manifesta de forma aguda:

  • Deslizamentos e Enchentes Urbanas: Periferias e favelas, onde a maioria da população é negra, estão construídas em encostas e várzeas de rios, sendo as primeiras e mais severamente atingidas por chuvas intensas.

  • Contaminação por Agrotóxicos: Comunidades quilombolas e ribeirinhas do Cerrado e da Amazônia sofrem com o envenenamento de suas águas e solos pelo avanço do agronegócio e da mineração.

  • Insegurança Hídrica e Alimentar: Secas severas no Nordeste e o aumento da temperatura em grandes centros afetam o acesso a água potável e a capacidade de manter a agricultura de subsistência nas comunidades.


Exemplos Atuais


  • Comunidade da Vila Autódromo (Rio de Janeiro): Símbolo da resistência contra remoções forçadas por megaeventos, expondo como a especulação imobiliária e a falta de planejamento urbano (associados à vulnerabilidade climática) afetam desproporcionalmente as populações negras.

  • Movimento das Quebradeiras de Coco Babaçu (Maranhão, Piauí): A luta pela defesa dos babaçuais e contra o agronegócio é um exemplo de ecologia negra em ação, preservando o bioma e o modo de vida tradicional.


Impactos em Comunidades Negras/Periferias


Os impactos não são apenas materiais, mas também psicossociais. O estresse crônico de viver sob ameaça de remoção, enchentes ou contaminação gera um quadro de saúde mental e insegurança social agravado. A Justiça Climática, aqui, é também a luta pelo direito à saúde ambiental e emocional dessas comunidades.


Caminhos e Soluções


Iniciativas Negras


  • Cartografia e Mapeamento Participativo: Comunidades utilizam ferramentas visuais e digitais para mapear áreas de risco e de resistência, criando provas sociais para a reivindicação de direitos e para denunciar o Racismo Ambiental.

  • Agricultura Urbana e Agroecologia: Projetos de hortas comunitárias em favelas e periferias resgatam a soberania alimentar, reduzem a dependência de grandes cadeias de distribuição e criam microclimas mais amenos.


Estratégias de Resistência


  • Incidência Política: A articulação de lideranças negras e periféricas em conselhos de política climática e espaços de poder para garantir que a dimensão racial esteja nas políticas públicas.

  • Resgate de Tecnologias Ancestrais: Valorização de técnicas tradicionais de construção sustentável, manejo de água e fitoterapia como alternativas comprovadas às soluções tecnocráticas e eurocêntricas.


Possíveis Saídas e Práticas Positivas


  • Inclusão de Raça e Classe no Orçamento Climático: O governo federal e municipal devem priorizar o investimento em saneamento, moradia e infraestrutura verde nas áreas mais vulneráveis.

  • Desenvolvimento de Câmaras de Justiça Climática: Espaços para fiscalização e diálogo, garantindo que os fundos de mitigação e adaptação cheguem diretamente às mãos das comunidades afetadas.


Conclusão

A Justiça Climática é o cerne da luta pela vida no século XXI. Ela nos obriga a encarar o legado do colonialismo e do racismo, reconhecendo que não é possível construir um planeta sustentável sem reparação social e racial. Falar de clima no Brasil é, inevitavelmente, falar sobre a vida na favela, no quilombo e na aldeia.

A cultura de resistência, a sabedoria do cuidado com o território e a arte produzida por comunidades negras e tradicionais são nossos maiores ativos na luta climática. Eles oferecem uma ética de reciprocidade com a natureza que o sistema extrativista capitalista rejeita.

A luta por um clima justo é a luta por uma vida negra justa. Exija que as políticas climáticas sejam também políticas antirracistas. O futuro do Brasil e do planeta, depende da nossa capacidade de ouvir e seguir a liderança das comunidades que, há séculos, resistem em seus territórios.


Se o clima pesa mais nas periferias, então a gente precisa falar de justiça climática agora. Apoie nossa proposta pra fortalecer a agricultura familiar com educação ambiental e gerar impacto real.


Preenche aqui rapidinho o formulário de participação! Ele serve pra confirmar que você concluiu o minicurso e garantir seu certificado. É simples, leva só alguns minutos: https://forms.gle/VbbaVzDF47eyCCbR6


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