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Maria Gabriela Cardoso

  • Foto do escritor: Amanda Guilherme
    Amanda Guilherme
  • 2 de jul.
  • 4 min de leitura
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Conheça Maria Gabriela Cardoso

Cidade e estado onde vive atualmente: Porto Belo/SC| Idade: 27 anos| Pronome: Ela/dela | PCD: Não | Linguagem: Literatura

🔗 Rede social/site/portfólio:Instagram: @luapinkhasovna


Como a arte entrou na sua vida?

Desde pequena fui uma leitora apaixonada, herança do meu avô, com quem trocava livros, cartas e conversas. Aos doze anos, eu já devorava Sidney Sheldon, Rosa Amanda Strausz e biografias, frequentava a biblioteca da escola quase diariamente e até convenci a bibliotecária a me deixar pegar dois livros ao mesmo tempo. Aos quinze, incentivada por uma professora de português, escrevi meu primeiro conto como forma de lidar com o luto pela perda do meu avô. Desde então, a escrita nunca mais saiu da minha vida. O desejo de ser escritora se concretizou aos dezenove anos, após a leitura da biografia da Clarice Lispector, que me fez enxergar um caminho possível. A partir disso, criei o heterônimo Lua Pinkhasovna, por meio do qual comecei a explorar temas sociais, políticos e existenciais.Hoje, trabalho numa editora (Editora Beija-flor), sou a criadora de um coletivo literário (Coletivo Escribas) e uma revista digital (Revista Escribas) e tenho um livro chamado Dos Pés ao Palato.


Quem é você além da sua arte?

Sou alguém que acredita na força da coletividade e nas pequenas ações que transformam tudo em volta. Trabalho em espaços de acolhimento, movimentos sociais, mas mesmo quando não estou produzindo algo, ainda assim, estou em constante contato com o que eu mais gosto de escrever. No fim, não sei se em algum momento consigo me desprender da literatura.


Conte seu processo de produção ou criativo

Meu processo criativo começa pela escuta das coisas do dia a dia, desde os assuntos sérios, notícias, até mesmo as fofocas e postagens de redes sociais. Me considero uma grande observadora e como a minha temática preferida é a política e assuntos polêmicos, levo tudo que escuto em consideração. Costumo anotar ideias em cadernos, nas notas do celular ou em papéis esquecidos. A literatura pra mim é linguagem, mas também é política, pois é a minha voz. Não escrevo buscando perfeição estética, adoro erros ortográficos e novas maneiras de usar o idioma (que considero algo vivo e carregado de cultura, não apenas um emaranhado de normas para se comunicar).


O que inspira o seu trabalho hoje?

Já me inspirei muito em Clarice Lispector e Carolina de Jesus: uma me lembrava da profundidade, a outra da simplicidade, mas hoje, me inspiro nas pessoas a minha volta, do meu dia a dia, toda a galera que participa dos projetos sociais onde trabalho. Os catadores de latinhas, as crianças periféricas, as famílias trabalhadoras, as donas de casa, as mães solo, os portadores de HIV, as travestis, etc... todas as pessoas reais, com suas vivências únicas. A realidade me fascina.


Você sente que sua arte é bem recebida ou ainda não cabe nos espaços?

Moro em Santa Catarina, um estado lindo em paisagens naturais, mas com uma população ainda muito preconceituosa e atrasada. Tenho muita dificuldade em divulgar o meu trabalho por aqui (até mesmo fui rejeitada pelo jornal local), mas vejo que conquisto muitos apoiadores de outros lugares. Já divulguei o meu trabalho em diversos sites, canais e até mesmo jornais grandes, entretanto, ainda sinto que minha voz não tem espaço onde moro, infelizmente.


Que temas, sensações ou ideias você repete nas suas obras? Por quê?

Meus textos frequentemente orbitam temas como política, desigualdade social, sexualidade, identidade, luto e problemas mentais. São assuntos que não escolhi apenas por interesse, mas porque fazem parte da minha vivência, da minha escuta e da minha observação do mundo. A sensação de deslocamento, de inquietação, de busca por pertencimento e de contestação aparece muito nos meus escritos, talvez porque, como mulher, bissexual, escritora e artista do Sul do Brasil, precisei encontrar formas de existir e resistir em espaços nem sempre acolhedores, tanto pra mim como pra pessoas que conviviam comigo (LGBT's, pretos e pessoas que por algum motivo eram marginalizadas).Sempre gosto de repetir, que o meu objetivo não é trazer pessoas pro meu ponto de vista, mas fazer com que o meu ponto de vista faça alguém refletir.


Quais são os seus maiores sonhos como artista? E seus maiores medos?

Meu maior sonho como artista é viajar o país (e o mundo), divulgando as minhas obras e que a minha escrita alcance quem mais precisa dela. Que sirva de abrigo ou impulso positivo para quem se sente sozinho, silenciado ou invisível. Quanto aos medos... bem, não é algo específico sobre literatura, mas que, sem dúvida nenhuma, teria grande efeito sobre ela, que seria perder a minha sanidade e contato com o mundo.


Sua relação com a inteligência artificial

Vejo nela uma ferramenta potente, que pode ampliar e oferecer novas formas de criação, especialmente para artistas independentes, como eu. Já utilizei a IA como apoio em etapas do processo criativo, organização de ideias e até como experimentação estética. Acredito que a inteligência artificial, quando aliada à ética, pode colaborar com a arte, mas jamais substituir a vivência, a criatividade, o afeto e a intuição, que são, no fim, o que dão alma à criação. Quem a consome precisa entender que ela é algo artificial, que cria coisas muitas vezes genéricas, baseadas em criações reais, de artistas reais.


Do que você mais se orgulha na sua caminhada artística?

Me orgulho, acima de tudo, de ter permanecido, que é o mais difícil. De não ter desistido da arte mesmo quando ela parecia inviável, silenciosa ou invisível. Me orgulho de ter começado com um conto entregue timidamente a uma professora e hoje ter um livro finalista de um prêmio nacional.


O que você gostaria que as pessoas entendessem sobre artistas independentes?

Gostaria que as pessoas entendessem que artistas independentes não têm apenas um trabalho criativo, eles acumulam funções. Além de criar, a gente produz, edita, divulga, corre atrás de editais, presta contas, responde e-mails, faz redes sociais. Isso sem falar nas outras diversas áreas de trabalho que buscamos para tirar o nosso sustento, mas ainda assim muitos têm uma ideia errada de como é a vida de quem trabalha com a arte.


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